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A Literatura do Medo

“O medo é a coisa de que mais medo tenho no mundo”

Michel de Montaigne

Thomas Hobbes, autor de Leviatã, disse que sua mãe deu à luz gêmeos: ele mesmo e o seu medo. Esse irmão segue ao nosso lado desde sempre e nos acompanha no compasso da vida. O medo nunca nos abandona! Mas afinal, porque algumas pessoas gostam tanto dessa sensação de sentir medo e porque a experiência de ler um livro com temas de suspense, terror e horror se torna mais comum a cada dia? As narrativas de horror encontram seu roteiro no desenlace da vida. O medo da morte é a prerrogativa para a atração à literatura do medo.

Pelos construtos psicológicos, o medo é a emoção relacionada aos nossos instintos de sobrevivência e a experiência do medo nos revela a consciência de nossa finitude. O maior mistério do homem é, em si, também a sua única certeza: a morte. Freud cita que uma das principais fontes do medo é a nossa “primitiva herança” com as experiências relacionadas à morte: cadáveres, retorno dos mortos, espíritos, fantasmas, demônios, dentre outros.

O universo do medo desperta as mais diferentes sensações desde os primórdios. O medo é uma emoção protagonista na história e nos produtos da imaginação do homem. Lendas de terror eram difundidas na idade média, no intuito de afastar e amedrontar as pessoas. O medo era cotidiano e a vida era, em si, uma experiência de luta contra a morte. A crueldade e as guerras eram experiências de horror. Nos últimos dois séculos, vários romances de suspense e os mais variados temas de terror e horror vêm lotando as prateleiras das bibliotecas e das livrarias. Cresce cada dia mais o comércio de artigos que remetam aos personagens de livros de suspense, horror e terror.

A literatura do medo tem conseguido arrebatar seguidores que buscam uma experiência que é real, porém as sensações de perigo não vêm acompanhadas dos riscos: ou seja, quando o medo não representa um risco verdadeiro a quem o experimenta, entramos no campo do prazer. Isso é o que torna o gênero tão popular. A literatura do medo é um escape do cotidiano, pois podemos externar sentimentos irracionais sem termos que afrontar o perigo real. 

Em resumo, o horror é nomeado de acordo com o afeto que provoca. O suspense é um elemento narrativo importante para a maioria das histórias de horror. Noëll Carroll, em A filosofia do horror ou paradoxos do coração, postula que “a maioria das narrativas seria erotética”, ou seja, supõe que as cenas, situações e acontecimentos posteriores se relacionarão com os anteriores.  Para Claudia Lemes, escritora e presidente da Aberst / Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror, a diferença entre o horror e terror “está na nuance do medo sentido pelo leitor. O terror é um medo acentuado do que pode estar prestes a acontecer, um medo misturado com antecipação. O horror é o medo mais relacionado a constatação do que está ou acabou de acontecer, um medo mais misturado com conhecimento de algo tão macabro que é difícil de aceitar e compreender”.      

    

             

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Bate Papo

Bate Papo com a Autora

Mhorgana Alessandra é mineira, psicóloga e escritora. Ela também dirige a Anima – Núcleo de Desenvolvimento humano, e ministra palestras sobre diversos termas relacionados ao comportamento humano. Ganhou diversos concursos literários e participa de antologias – como autora e como organizadora. Blogueira, colunista e roteirista, mostra a diversidade de seu trabalho quando passeia por diferentes estilos, mas tem predileção por ficção, suspense, terror e horror. Fã de Stephen King é também membro da Academia Mineira de Belas Artes, da Liga Mineira de Escritores e da ABERST  – Associação dos Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror. É editora dos Selos Editorias Literanima e A Arte do Terror, além do podcast Aterrorizados.  

Qual o livro que você escreveu e que melhor define o seu estilo de escrita?

Mhorgana Alessandra: Bom, acho que tudo que escrevemos traduz um pouco do momento em que vivemos e de nossas preferências pessoais. Um livro que amei escrever, foi o Lado Escuro da Floresta. Não só pela identificação com a temática: contos de terror ambientados em florestas, mas por querer fazer uma homenagem à uma fotógrafa e psicóloga com quem havia feito um ensaio fotográfico, que levou esse nome. A capa do livro faz parte desse ensaio e reforça minha identificação com o tema. Eu sempre tive fascínio por florestas e quando criança, eu e minha família morávamos no interior de Minas, um uma pequena cidade chamada Dores de Campos. Lá tínhamos a Mata das Assombrações, que me dava arrepios. Claro que a experiência de medo, ficou guardada nas minhas memórias e anos depois traduzi no meu texto. Ano passado, o tema do Ghost Story Challhenger da Aberst, foi Numa Floresta Sombria, e eu produzi um conto que dei o nome de Lado Escuro da Floresta, uma referência ao meu livro escrito no ano anterior. Tenho verdadeiro fascínio pelo tema, é como se em cada arbusto, se encontrasse um medo, um arrepio. Me encanta muito essa temática!


Como é o seu processo de criação de uma história? Você costuma preparar algum roteiro, montar fichas de personagens ou segue um processo mais intuitivo?

Mhorgana Alessandra: O processo de criação depende do momento que estou vivendo e o que espero daquela produção. Por exemplo, se tenho uma ideia e estou impossibilitada de escrever, assim que possível, faço um resumo. Mas quando é algo planejado, faço um esboço, construo a história e cada personagem numa linha de tempo e espaço, desenvolvo a história e pesquiso todo o material necessário para construir meus personagens. Em seguida, eu escrevo, reviso e passo para os leitores betas e leitor crítico. Acho que nós escritores, nos envolvemos com nossos personagens e a escrita é libertadora. Nos sentimos plenos e satisfeitos enquanto escrevemos  e faz parte do processo de produção, o prazer em escrever. 


O que te move a escrever?

Mhorgana Alessandra: Como psicóloga, sempre precisei ler e escrever muito, mas a busca por novos saberes me fez buscar outros rumos. No início era apenas o ato de escrever, hoje se tornou parte da minha vida, da minha missão. Eu escrevo também livros infantis, poesias, artigos e colunas literárias, mas o fascínio pelo terror e pelo suspense de uma boa história de fantasmas e demônios, me provoca a produzir mais com esse foco.  Hoje, em função do mestrado, minha tendência é buscar um pouco mais a área da filosofia e da psicologia. Então, tenho produzido artigos e textos de cunho cientifico, mas que também me auxiliam no meu desenvolvimento como escritora e roteirista.

Você também gerencia o selo editortial Literanima e a Arte do Terror. Fale-nos um pouco sobre eles.

Mhorgana Alessandra: O Literanima é um projeto literário, que nasceu da necessidade de se discutir e apoiar a Literatura e as artes de uma forma geral. Nosso propósito é divulgar livros, poesias, resenhas, crônicas, artigos e contos de escritores e editoras de todos os estilos, principalmente nacionais. Agora, somos um selo literário, parte de um projeto maior que vem para 2021. Atualmente fazemos divulgações, promovemos saraus e encontros literários e divulgação de projetos sem nenhum custo para o autor. Acreditamos que é possível apoiar os autores, as editoras e difundir trabalhos de qualidade para os nossos leitores. A ideia é ler, escrever e compartilhar sempre, de forma a unir no mesmo espaço a construção de diversos saberes e artes. Já a A Arte do Terror, é um projeto desenvolvido para dar visibilidade à autores iniciantes nos gêneros de terror, horror, ficção e sua variações. Hoje já são mais de 600 autores publicados em mais de 20 coletâneas em quatro idiomas.

Quais são os autores que você mais gosta ou que, de alguma forma, influenciaram o seu trabalho como escritora?

Mhorgana Alessandra: Eu poderia citar aqui vários nomes que tenho como referência, mas não posso deixar de lembrar do meu parente Carlos Drummond de Andrade, e dos ícones Rubem Alves, Fernando Sabino, Cora Coralina, Clarice Lispector, Machado de Assis, Conceição Evaristo, Álvares de Azevedo e Jorge Amado. Amo Charles Baudelaire, Pablo Neruda, Fernando Pessoa e os mestres Stephen King, Edgar Alan Poe e Howard Phillips Lovecraft. E também minhas divas, Marion Zimmer, Mary Shelley e Anne Rice. E claro, Freud, Jung, Platão, Foucalt, Merlau-Ponty e Nietzsche.